segunda-feira, 3 de dezembro de 2007

O CORINTHIANO E A MÃO QUE O SEGURA... OU SEGURAVA

Se houve alguém que se beneficiou do rebaixamento, ou melhor, da possibilidade de rebaixamento do Corinthians, esse alguém foi a Rede Globo de Televisão.
A situação vivida pelo clube paulista acendeu na emissora carioca uma possibilidade ímpar de envolver o país num prisma único de identificação com a causa corinthiana. De modo bem geral, todas as mega-empresas de comunicação trabalharam nestas últimas semanas sob essa hipótese de modo espetacular: apontaram responsáveis, provocaram, denunciaram, etc., mas a Rede Globo, além de repetir todos estes itens, se preocupou em descaradamente enaltecer a imagem da torcida alvi-negra, que representa hoje cerca de 30 milhões, dizem.

Como não é boba nem nada, a empresa dos Marinho tratou logo de transformar o país num reduto pró-Corinthians. Inocente eu seria para afirmar que o que houve foi apenas uma identificação "imparcial", apaixonada e indiscriminadamente comprometida. Muito pelo contrário, a Rede Globo sabia deste potencial de identificação, usou e abusou, exaustivamente, recorrências ao brasilianismo-corinthiano, algo muito parecido com as analogias usadas com Clube de Regatas Flamengo, chupado pela mídia, e hoje classificado para a libertadores da América.
Pois a mídia também chupou o Corinthians, mas sob uma nova ótica, a do rebaixado, ou quase. E como transformar o drama em grana? Nada melhor do que encerrar dezenas de "Globo Esporte"(s) com o hino, a torcida, as lágrimas e o canto corinthianos; nada melhor do que usar metade do "Esporte Espetacular" para dizer o quão grande é o "timão", pegar carona com os bondes apaixonados alvi-negros e montar nas costas daqueles que hoje estão chorando uma segunda-feira amarga. Até mesmo o Fantástico, através do quadro "Profissão Repórter", enviou uma jornalista patricinha e fresca para acompanhar viagens cansativas: tudo para fazer o Brasil inteiro entrar no clima do "salva-Corinthians". No jogo contra o Goiás, aumentaram o volume da torcida corinthiana, enquanto uma legenda acompanhava o cântico. Ontem, um santista saía do boteco com lágrimas nos olhos; ele disse: "que pena".
"A mídia é corinthiana", dizem alguns. E eu não posso discordar, pelo menos a princípio. Mas ela foi nesta campanha, e está sendo, corinthiana de uma forma nada inocente. E, afinal, o que de tudo isso restou? Os rebaixados choram, a ladroagem continua, e quem paga a conta? O próprio corinthiano, que depositou na mídia boa parte de sua empolgação, numa espécie de último fôlego. Pois agora, corinthiano, a mídia também te abandona, debocha, irrita, provoca, denuncia, naquele mesmo círculo vicioso que parecia te dar a mão há alguns dias atrás. O último apaga a luz.
No fim das contas, quem deve estar rindo de orelha a orelha é a RedeTV!, que se ainda não tem os direitos de transmissão pra série B do ano que vem, vai começar a se mexer alucinadamente. Não duvido nada que as noites de terça ou sexta-feira - dias de jogos da série B - tragam consigo o mesmo Corinthians e aquela mão de alface que o segura...